A Síndrome do Intestino Irritável e a dor pélvica crônica

jan. 10, 2022
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A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um distúrbio do trato digestivo que provoca uma associação de sintomas, como dor abdominal e períodos de diarreia alternados com constipação.



É uma doença na qual a paciente tem uma anormalidade no funcionamento das vilosidades intestinais que pode piorar com a ingestão de alguns alimentos ou com o estresse.


Dizemos que este é um problema funcional, já que não provoca alterações estruturais ou bioquímicas, mas afeta o funcionamento das atividades normais do corpo.


Por exemplo, uma pessoa com a SII poderá ter alterações no movimento do intestino, na sensibilidade dos nervos intestinais ou na maneira como o cérebro controla essas funções.


No geral, essa doença não está relacionada com complicações graves no quadro de saúde da paciente.


Apesar disso, pode causar muitos incômodos e afetar significativamente a qualidade de vida, se não receber o devido tratamento.


Estima-se que até 10 a 15% dos adultos tenham sintomas compatíveis com este quadro.


Esta síndrome frequentemente se associa com fibromialgia, síndrome de fadiga crônica, refluxo gastroesofágico, dispepsia funcional, dor torácica não associada ao coração e transtornos de humor, como depressão e ansiedade.


Além disso, a síndrome do intestino irritável pode ser uma das causas da dor pélvica crônica, que se caracteriza por uma dor na região da pelve que dura mais de 6 meses e interfere nas atividades do dia a dia da mulher.


Por isso, quando uma paciente chega no consultório relatando dores e outros incômodos na região pélvica, devemos fazer uma avaliação ampla para identificar a causa exata do problema e tratá-la devidamente.


Temos um artigo que fala mais sobre a dor pélvica crônica e você pode ler clicando aqui.


Quais as causas da SII?


As causas da Síndrome do Intestino Irritável não são totalmente conhecidas.



Sabemos que este é um distúrbio associado a diversos fatores, como alterações neurológicas relacionadas ao intestino, e que a hipersensibilidade visceral pode se agravar pela ingestão de certos alimentos.


Além disso, a síndrome pode estar relacionada a alterações psicossomáticas, como por exemplo, o estresse.


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Assim, os sintomas da síndrome podem aparecer em diversas situações:


  • Ingestão de alimentos, como café, chocolate, trigo, álcool, refrigerante, leite e derivados;
  • Comer muitos alimentos gordurosos;
  • Dieta rica em proteínas ou em fibras;
  • Uso de alguns medicamentos, como os laxantes;
  • Passar por períodos de grande estresse e ansiedade.


Quais os principais sintomas?


O principal sintoma desta síndrome são as dores e desconfortos abdominais recorrentes. Podem ser de intensidade leve a intensa, e têm associação com a defecação - alguns relatam melhora após evacuar, outros piora.


Além disso, existem outros sintomas associados:


  • Mudança do hábito intestinal (mudança entre constipação ou diarreia, podendo ou não intercalar com períodos de hábito intestinal normal);
  • Alteração na consistência das fezes;
  • Distensão abdominal e gases;
  • Melhora total ou parcial da dor após evacuação.


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Os sintomas podem ocorrer por meses, bem como aparecer e desaparecer em intervalos irregulares.


A dor também poderá se manifestar de diversas formas. Por exemplo, a paciente poderá sentir uma dor contínua e/ou forte ou cólicas.


Geralmente, os sintomas costumam ser constantes ao longo do tempo, mas eles podem aumentar ou diminuir em gravidade.


Atenção especial deve ser dada a sinais de alarme, que nos fazem suspeitar de outras causas para os sintomas:


  • Início do quadro após os 50 anos;
  • Sangramento intestinal ou anormalidades bioquímicas, como anemia;
  • Diarréia noturna;
  • Dor com piora progressiva;
  • Perda de peso inexplicada;
  • Histórico familiar de câncer no trato digestivo ou doença inflamatória intestinal.


Como fazer o diagnóstico?


O diagnóstico da síndrome do intestino irritável é clínico e deve ser muito cuidadoso, já que algumas doenças mais graves têm sintomas similares e podem ser confundidas com a síndrome.


No consultório, buscamos compreender a história do paciente e utilizamos critérios padronizados baseados em sintomas, chamados de critérios de Roma.


Então, para diagnosticar a SII a paciente deve ter dor abdominal, no mínimo, uma vez por semana nos últimos três meses, sendo que essa dor deve ser associada aos seguintes sintomas:


  • Relação da dor com a defecação;
  • Mudança na frequência da evacuação (constipação ou diarreia);
  • Alteração na consistência das fezes.


Uma história clínica detalhada pode permitir já excluir outras doenças com sintomas semelhantes, mas eventualmente podem ser necessários alguns exames complementares. 


Dado que a síndrome do intestino irritável não provoca alterações bioquímicas e anatômicas, estes exames servem para excluir outras causas de dor e alteração no funcionamento intestinal, tais como doenças inflamatórias intestinais, doença celíaca, infecções, dentre outros.


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Podemos também solicitar exames para avaliar intolerâncias à lactose ou ao glúten.


Outro ponto importante a considerar é a saúde mental da paciente, já que a SII pode estar associada ao estresse, ansiedade ou transtornos do humor.


Também é importante afastar o uso de medicações associadas, que podem causar estes sintomas. Como exemplos:


Podem causar diarréia:


  • Digoxina;
  • Medicamentos para hipertensão: captopril, losartana, hidralazina, diuréticos;
  • Fibratos e estatinas;
  • Alprazolam, fluoxetina, lítio;
  • Metformina;
  • Lactulose, sorbitol, anti ácidos; etc.


Podem causar constipação:


  • Anti alérgicos;
  • Escopolamina;
  • Antidepressivos;
  • Suplementos contendo ferro;
  • Antiácidos contendo alumínio;
  • Analgésicos opióides; etc.


Tratamento da Síndrome do Intestino Irritável


O tratamento da síndrome do intestino irritável irá variar conforme o quadro clínico de cada paciente.


Casos em que há sinais de alarme devem ser avaliados por endoscopia antes de programar tratamentos.


No entanto, existem medidas que serão úteis para todos os casos, como o controle da alimentação.


Grande parte das pacientes sofrem com o consumo de determinadas comidas e bebidas. Então, identificar o que provoca ou piora os incômodos para cada paciente será essencial para fazer adaptações na alimentação e evitar essas situações. 


Um histórico e recordatório alimentar detalhado pode ser usado para tentar descobrir os principais alimentos causadores de sintomas.


Em linhas gerais, uma dieta rica em alimentos muito fermentáveis, conhecidos como FODMAPs, pioram os sintomas da síndrome.


Esses alimentos são carboidratos de cadeia curta, que não são completamente digeridos ou absorvidos. Então, eles são fermentados no intestino, gerando distensão, gases e dor.


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Fonte: Traduzido de Shepherd, Susan J BAppSci, MND, PhD1; Lomer, Miranda C E RD, PhD2; Gibson, Peter R MD, FRACP3 Short-Chain Carbohydrates and Functional Gastrointestinal Disorders, American Journal of Gastroenterology: May 2013 - Volume 108 - Issue 5 - p 707-717 doi: 10.1038/ajg.2013.96


Além disso, uma dieta com baixo teor de gordura pode ser útil para algumas pessoas. Para outras, pode ser uma opção a restrição de glúten ou lactose.


Alimentos que produzem gases quando digeridos também devem ser evitados. Neste grupo estão incluídos, mas não somente: feijões, cebolas, cenouras, frutas secas (passas, damasco), álcool e cafeína.


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Os testes terapêuticos com mudança de dieta devem ser feitos por no mínimo 4 a 8 semanas, com posterior avaliação da resposta.


Atividade física moderada a intensa, por 20 a 60 minutos, três a cinco vezes por semana também foi associada a melhora nos sintomas em pessoas com SII, e deve ser recomendada a todos os pacientes.


Quando os sintomas são muito fortes ou não melhoram com as mudanças no estilo de vida, o médico responsável pelo tratamento poderá receitar remédios para controlar os sintomas. Dentre as drogas mais usadas estão medicamentos para ajudar com a constipação, com a diarréia, além de analgésicos e antiespasmódicos.


É importante esclarecer que apesar de incômoda, a síndrome do intestino irritável não aumenta seu risco de câncer intestinal ou doença inflamatória. O objetivo é controlar os sintomas, dado que na maioria das vezes eles flutuam em sua intensidade.

 

É válido ressaltar que, muitas vezes, a paciente chega no consultório ginecológico com queixas de dor pélvica e caberá à ginecologista avaliar a causa do incômodo.


Por isso, devemos ter um olhar atento e que vá além das doenças ginecológicas, de modo a fornecer o melhor atendimento possível para cada mulher.


Assim, ao identificarmos doenças não relacionadas ao sistema reprodutor feminino, fazemos o encaminhamento para outras especialidades.


No caso da Síndrome do Intestino Irritável, quando o tratamento e orientação inicial não trazem melhora, podemos indicar profissionais como gastroenterologistas, nutrólogos, nutricionistas e até psicólogos ou psiquiatras.


O mais importante será procurar ajuda ao sentir incômodo que afetem sua qualidade de vida e bem-estar.


Não deixe de se cuidar!


Dra Juliana Ribeiro - Ginecologista em São Paulo

Dra. Juliana Ribeiro

Ginecologia, Obstetrícia e Saúde Feminina


Ginecologista e Obstetra de formação, eu acredito que informação é a maior forma de poder que podemos ter. Como médica, tenho a missão de trazer a vocês o maior número de informações possíveis, a fim de poder ajudá-las a participar ativamente do cuidado da sua saúde.


Acredito que a prevenção é a melhor escolha sempre e que o engajamento da paciente no tratamento é a melhor forma de ele dar certo.

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