Gravidez Depois dos 35 Anos – o que eu preciso saber?

admin • dez. 07, 2020
FALAR VIA WHATSAPP

Nas últimas décadas as mulheres buscam diversas realizações pessoais ou profissionais e, muitas vezes, antes de se tornarem mães. Com isso, a gravidez depois dos 35 anos tem se tornado corriqueira e alguns cuidados são necessários.  

Cada vez mais, o papel das mulheres vem sofrendo transformações na sociedade moderna. Se antigamente elas casavam-se jovens e logo engravidavam, hoje em dia as coisas estão mudando.

Fazer uma universidade, buscar um bom cargo no mercado de trabalho, viajar o mundo… Seja qual for o motivo, as mulheres cada vez mais têm optado por ter filhos mais tarde.

Um estudo realizado pelo IBGE mostra que, entre 2008 e 2018, o número de mulheres que se tornaram mães antes dos 30 anos diminuiu em 16,1%, enquanto aquelas que tiveram filhos entre os 30 e 44 anos aumentou em 36%.

dra-juliana-ribeiro-ginecologista-obstetra-sao-paulo

Alguns fatores podem influenciar estas estatísticas. Além do planejamento familiar, atualmente, temos uma maior disponibilidade de métodos contraceptivos que auxiliam a evitar a gravidez indesejada.

Além disso, os avanços da medicina possibilitam que cada vez mais mulheres acima dos 35 anos tenham filhos saudáveis.

O que acontece com a fertilidade com o passar dos anos

Em linhas gerais, consideramos como idade ideal para uma gestação a faixa entre 20 e 29 anos. Esse é um conceito antigo em Obstetrícia, mas do ponto de vista fisiológico, é quando as chances de complicações são menores.

Nessa faixa etária que a mulher apresenta maior fertilidade e seu aparelho reprodutor está apto para gerar um neném. 

Isso não quer dizer que uma mulher acima dos 30 ou 35 anos não possa engravidar, mas sim que ela pode demorar um pouco mais para conseguir em comparação a quando era mais jovem e precisará ter alguns cuidados adicionais. 

Óvulos – as nossas células reprodutoras

Os óvulos, ou oócitos são os nossos gametas, as células reprodutoras femininas. Eles ficam armazenados nos ovários e são eles que transmitem nossa carga genética aos descendentes.

O que ocorre é que toda mulher nasce com um número definido de óvulos nos ovários – sim, amiga, isso mesmo que você leu! Já nascemos com todos os óvulos que teremos disponíveis ao longo da vida. 

Completamente diferente dos homens, que continuam a produzir novos espermatozóides ao longo de toda a vida… 

dra-juliana-ribeiro-gestacao-apos-35-anos

O declínio da quantidade de óvulos e as diferentes idades reprodutivas de acordo com Faddy et al.

Fonte: E.R.te Velde and P.L.Pearson. Variability of female reproductive ageing. Human Reproduction Update, Vol.8, No.2 pp. 141-154, 2002

Todos os meses durante o ciclo menstrual vários deles são recrutados, um dos sortudos é ovulado e os demais sofrem um processo chamado atresia e morte celular programada. Não importa se você tomou pílula metade da vida, se menstruou ou não menstruou, se engravidou uma vez ou dez… 

Certo como os impostos, com o passar do tempo, não só a quantidade de óvulos reduz, mas também eles sofrem um envelhecimento, perdendo sua qualidade.

dra-juliana-ribeiro-obstetra-sao-paulo

Então, podemos afirmar que, após os 35 anos, pode ser mais difícil da mulher engravidar, pois sua fertilidade terá um declínio considerável.

Chances de gravidez por ciclo menstrual

Quando falamos em números, podemos dizer que antes dos 30 anos anos a mulher tem cerca de 25% de chance de engravidar espontaneamente em um ciclo menstrual. Já quando ela tem de 40 anos, esta porcentagem cai para 8%.

Uma alternativa para mulheres que estão se aproximando dos 30 anos e ainda não pretendem ter filhos é a de congelar os óvulos. Isso é feito para que óvulos jovens e mais saudáveis fiquem guardados até o momento que elas decidam ter uma gestação.

Como funciona o congelamento de óvulos

A idade ideal considerada como limite para congelar os óvulos costuma ser até 32-35 anos.

Isso porque, quanto mais velho é o óvulo, maiores são os riscos de doenças cromossômicas fetais. Então, mesmo que a mulher opte por engravidar aos 45 anos, por exemplo, do ponto de vista genético o mais importante é que seu óvulo tenha uma idade mais jovem, de quando foi congelado.

Para realizar este procedimento, a paciente deve fazer um tratamento hormonal a partir do segundo dia da menstruação de modo a estimular a ovulação.

O médico fará o acompanhamento a partir de exames de sangue e/ou ultrassonografias e, em até 36 horas após a última aplicação hormonal, fará a coleta de óvulos com a ajuda de uma agulha e um aparelho de ultrassom.

Depois de coletados, os óvulos passam por tratamentos para finalizar a maturação e, após este período, os óvulos maduros são congelados.

No futuro, quando a mulher decidir engravidar, os óvulos serão descongelados, fertilizados em laboratório e os embriões serão implantados no útero.

dra-juliana-ribeiro-gravidez-depois-dos-35-anos-sao-paulo

Quantos óvulos eu preciso ter para engravidar?

Do ponto de vista teórico, precisamos que um óvulo encontre um espermatozóide e seja fecundado por ele. Do ponto de vista prático, para isso acontecer com sucesso, especialmente em condições artificiais, infelizmente não é tão simples assim. 

O congelamento deve ser visto como um plano B, e não uma garantia de ter um filho vivo. Muitas coisas podem acontecer no processo de indução de ovulação, coleta, armazenamento, descongelamento e fertilização artificial desses gametas.

O número de óvulos a congelar depende da idade em que se realiza a coleta e de qual é o planejamento reprodutivo desta mulher – quer ter quantos filhos? E também depende da probabilidade que se espera ter de conseguir um nascido vivo a partir destes óvulos.

Por exemplo, este estudo publicado numa grande revista sobre fertilidade fez essas avaliações. Para se obter uma probabilidade de 80% de chance de gravidez e ter pelo menos um filho, precisamos congelar cerca de 18 óvulos entre 30-34 anos, ou 20-22 óvulos entre 35-37 anos. Entre 38 e 40 anos, mesmo congelando 30 óvulos a chance de ter um bebê fica somente ao redor de 75% e após os 40 anos a chance cai para pouco mais de 50%, vejam os gráficos:

dra-juliana-ribeiro-fertilidade-mulher

Probabilidades previstas de ter pelo menos um (linha azul), dois (linha vermelha) e três (linha verde) filhos nascidos vivos de acordo com o número de óvulos maduros criopreservados para preservação eletiva da fertilidade, de acordo com a idade na recuperação do óvulo e as estimativas de eficiência de filhos nascidos vivos: (A) 30–34 anos, 8,2% de eficiência; (B) 35–37 anos, eficiência de 7,3%; (C) 38–40 anos, 4,5% de eficiência; (D) 41–42 anos, eficiência de 2,5%.

Fonte: Joseph O. Doyle, M.D. et al. Successful elective and medically indicated oocyte vitrification and warming for autologous in vitro fertilization, with predicted birth probabilities for fertility preservation according to number of cryopreserved oocytes and age at retrieval. Fertility and Sterility, Vol. 105, No. 2, 2016.

Apesar de toda a tecnologia disponível atualmente, ainda não temos a fórmula exata que garanta a fertilidade por toda a vida.

E, infelizmente, nós mulheres precisamos em algum momento (muito mais cedo do que muitas gostariam) tomar a grande decisão: ter filhos ou não, quantos filhos ter, e, ainda mais injusto, ter que muitas vezes optar por aceitar uma promoção no trabalho ou uma proposta de pós graduação ou ir em busca da maternidade.

Riscos associados à gravidez depois dos 35 anos

Além da maior dificuldade de engravidar, uma gravidez depois dos 35 anos apresenta alguns riscos para a mãe e o neném.

Quando engravidamos após esta idade, nossos óvulos já estão mais envelhecidos e isso aumenta a possibilidade de ter um filho com alterações genéticas que podem causar, por exemplo, a Síndrome de Down.

Além disso, uma mulher com mais idade pode já apresentar algumas doenças de base, como hipertensão ou diabetes, além de ter risco aumentado para o surgimento de complicações associadas à gestação, como abortamento.

Para esta população em especial a consulta pré concepcional é ainda mais importante. Verificar como está a saúde, receber as orientações necessárias e iniciar estratégias redutoras de risco antes de engravidar vão ser fundamentais para garantir uma gestação mais tranquila.

Mais detalhes sobre a avaliação pré concepcional podem ser vistos clicando aqui .

Pode ser necessário que estas mulheres tenham um acompanhamento pré-natal mais próximo, com maior quantidade de consultas e exames, a depender das particularidades de cada uma, de modo a garantir sua saúde e a do bebe.

dra-juliana-ribeiro-pre-natal-sp

Então, caso você se enquadre neste grupo, não hesite em procurar uma médica de confiança que te acompanhará em toda essa jornada e, dentro do possível, garantirá uma gestação mais tranquila e segura. 

Dra Juliana Ribeiro - Ginecologista em São Paulo

Dra. Juliana Ribeiro

Ginecologia, Obstetrícia e Saúde Feminina


Ginecologista e Obstetra de formação, eu acredito que informação é a maior forma de poder que podemos ter. Como médica, tenho a missão de trazer a vocês o maior número de informações possíveis, a fim de poder ajudá-las a participar ativamente do cuidado da sua saúde.


Acredito que a prevenção é a melhor escolha sempre e que o engajamento da paciente no tratamento é a melhor forma de ele dar certo.

Compartilhe este conteúdo

Sofri violência sexual, o que fazer?
02 mai., 2024
Quer saber como proceder após sofrer uma Violência Sexual? Dra. Juliana Ribeiro é Ginecologista em São Paulo e explica.
Quero engravidar, como devo proceder?
Por Dra Juliana Teixeira Ribeiro 25 abr., 2024
“Quero Engravidar” quais passos devo dar? Dra. Juliana Ribeiro é Ginecologista e Obstetra em São Paulo e fala sobre o tema!
Abscesso tubo-ovariano: saiba como identificar e tratar
16 abr., 2024
Você quer saber quais são os sintomas de um Abscesso Tubo-Ovariano? Dra. Juliana Ribeiro é Ginecologista em São Paulo e explica!
Você quer entender como funcionam os Métodos de Reprodução Assistida? Dra. Juliana Ribeiro é Ginecol
04 abr., 2024
Você quer entender como funcionam os Métodos de Reprodução Assistida? Dra. Juliana Ribeiro é Ginecologista em São Paulo e explica!
Planejamento familiar: qual o momento certo para engravidar?
28 mar., 2024
Você quer saber o que é preciso considerar ao realizar o Planejamento Familiar? Dra. Juliana Ribeiro é Ginecologista em São Paulo e explica!
Extração de tubas uterinas: quando é necessária?
21 mar., 2024
Você quer saber quando a Extração de Tubas Uterinas é indicada e como é feita? Dra. Juliana Ribeiro é Ginecologista em São Paulo e explica!
Fio do DIU entrou no útero, e agora?
14 mar., 2024
Quer saber o que fazer caso o Fio do DIU entre no útero? Dra. Juliana Ribeiro é Ginecologista em São Paulo e fala sobre o tema!
Curetagem uterina: quando é necessária e quais são os riscos?
07 mar., 2024
Quer saber quando é preciso fazer a Curetagem Uterina e se há riscos no procedimento? Dra. Juliana Ribeiro é Ginecologista em São Paulo e explica!
Yoni eggs realmente trazem benefícios para a saúde da mulher?
29 fev., 2024
Você quer saber para que servem os Yoni Eggs e se eles realmente funcionam? Dra. Juliana Ribeiro é Ginecologista em São Paulo e fala sobre o tema!
Controle da endometriose: qual o papel do estilo de vida?
22 fev., 2024
Quer entender como fazer o Controle da Endometriose através do seu estilo de vida? Dra. Juliana Ribeiro é Ginecologista em São Paulo e explica!
Mais Posts
Share by: